Fiquei inquietada e sensibilizada
com uma notícia de terça-feira. Falava do ataque de um dogue argentino a uma
criança de um ano e meio, tendo esta falecido devido às graves lesões sofridas.
É evidente que me angustia a morte de um bebé, até porque convivo frequentemente
com um familiar dessa idade e é seguramente aterrador sofrer uma perda destas,
isso não está em discussão. Todavia, lido com a mesma frequência com um dócil e
obediente dogue argentino e o facto de ele estar inserido na lista das sete
raças mais perigosas faz-me alguma confusão, talvez essa distinção se deva ao seu
porte, porque um cão é perigoso mediante a educação que recebe. É falaciosa a
comparação com os seres humanos, mas a nossa educação é fundamental para a
construção da nossa personalidade e, como consequência, das nossas atitudes
mais ou menos corretas, mais ou menos perigosas, mais ou menos dóceis. E se
julgámos uma pessoa pelo seu aspeto, quer seja pela cor, quer seja pelo grau de
desenvolvimento dos seus músculos, estamos a ser racistas. Ouvi uma veterinária
dizer que aquela raça de cães tem, por vezes, comportamentos compulsivos, quer
por comida ou por um brinquedo. O dogue argentino que conheço, por comida não
tem qualquer comportamento compulsivo, basta dizer para ele não comer, mesmo
tendo o alimento à sua inteira disposição, que ele obedece naturalmente, é
certo que se alimentou de toneladas de esponja daquela que seria a sua cómoda
cama, mas não foi assim tão compulsivo, depressa se desfez integralmente dessa
esponja no seu cocozito. Creio que o único aspeto de compulsividade (se é que
se possa assim chamar) que encontro é pelo dono, pois se este está fora é
necessário ir dar-lhe o comer quase na boca, como se uma criancinha se
tratasse, fica desconsolado, não fica agressivo. Tentem colocar na mão qualquer
alimento, fechá-la bem e dar a um desses cãezinhos muito pequeninos e encantadores
a ver no que dá. Com o selvagem do dogue argentino o mais aborrecido que
acontece é ficar com montes de baba para recordação. Notícias discriminatórias não,
maus donos não, porque enquanto recebem títulos maldosos estes cães podem estar
a morrer e a deixar a sua família em lágrimas.
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